Caso de polícia, saúde pública ou falta de bom senso, o fato é que a poluição sonora incomoda a todos. Salvador é uma das cidades onde existe maior incidência do problema e os registros de denúncias não param de aumentar. De acordo com a Superintendência de Controle e Ordenamento do Uso do Solo do Município (Sucom), cerca de 5 mil reclamações chegam diariamente ao órgão, principalmente de vizinhos insatisfeitos com o barulho alheio. Até o último dia 12, esse número havia passado das 66 mil reclamações em 2012.
Por causa do alto índice de denúncias registradas na Sucom, é possível notar que a população ainda não se conscientizou com os danos que o barulho em excesso pode causar. Qualquer som maior que 80 decibéis (equivalente ao som do liquidificador caseiro) já compromete a audição humana. Por essa razão que a Superintendência vem realizando palestras educativas em escolas e outras instituições para orientar as pessoas para o uso correto do som.
O funcionário público Ricardo Sousa, 29 anos, ouvindo pela reportagem em um ônibus da capital, reclama da falta de bom senso das pessoas, principalmente no transporte público. "Temos que aprender que nossos direitos terminam quando começam os do outro. Se eu não quero ser incomodado, não posso interferir no silêncio do vizinho. São as normas básicas para conviver em sociedade e as pessoas não têm respeitado isso". Em direção ao trabalho e viajando atrás de um rapaz que compartilhava o seu gosto musical com os demais passageiros do coletivo, Sousa completou: "Somos obrigados a ter a opção musical do vizinho compartilhada mesmo ela não sendo de bom gosto. Não temos opção a não ser aturar tudo isso".
Leis Municipais - Em maio deste ano foi sancionada a lei municipal (nº 8293/2012), que proíbe a utilização de aparelhos sonoros com alto volume no interior dos ônibus de Salvador, mas até então nenhuma ocorrência formal foi registrada pela Sucom. A fiscalização é feita pelo próprio órgão, em conjunto com as polícias civil e militar, além da Guarda Municipal. Após a notificação, o "DJ" é multado e tem o equipamento apreendido.
Em residências e estabelecimentos comerciais, a Sucom age de acordo com a Lei nº 5354/98, que trata da organização dos sons urbanos, cria licença para utilização sonora e determina os limites de horário e as punições ao desrespeito. Segundo manda a lei, entre às 7h e às 22h é permitida a emissão de 70 decibéis, caindo para 60 decibéis no período entre às 22h e 7h.
Saúde física e mental - O otorrino Antonio Borja ressalta a importância das pessoas cuidarem bem do seu aparelho auditivo hoje para não ter a saúde comprometida futuramente e reclama da falta de incentivo ao uso correto do som. Segundo ele, os níveis de poluição sonora em Salvador são abusivos em termos de saúde física e mental.
"Nós temos direito ao silêncio. Existem campanhas contra o uso do cigarro, mas não há contra o uso do som em alto volume. Além disso existem leis relacionadas à emissão de decibéis em excesso, mas a população não cobra o cumprimento porque não percebe o mal que está fazendo a si mesma".
O ruído concentrado é um dos grandes vilões por conta do estresse emocional, que por sua vez, causa danos à saúde física e mental. Hipertensão, insônia e mau humor são alguns dos problemas causados pela alta exposição ao som por muito tempo. Além disso, quem trabalha em ambientes ruidosos tem mais probabilidade de desenvolver problemas de taquicardia e inflamações como gastrite e esofagite.
De acordo com Borja, a própria Sucom, responsável por fiscalizar a poluição sonora, não tem contingente para impedir o excesso ou aconselhar as pessoas como cuidar da audição: "As pessoas não têm respeito pelas leis. A Sucom não tem agentes suficientes para checar as denúncias e seguimos sem executar as leis e desrespeitando a saúde".
Bem-estar social - Para uma boa convivência em sociedade, Borja sugere que se busque uma cultura anti-barulho. Uma atitude positiva para um ano novo com mais saúde é optar por ambientes menos barulhentos ou evitar shows em locais fechados. E, principalmente, abandonar o hábito de usar os fones de ouvido em volume muito alto.
Utilizar o bom senso e a prestatividade com o próximo é outra recomendação do especialista. Se hoje as pessoas não adoecem e abusam da juventude para maltratar o aparelho auditivo, o médico sugere uma atitude contrária para não sofrer no futuro. Melhor não pagar para "deixar de" ouvir.
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