A formação do pensamento urbanístico no Brasil
O primeiro período, 1895 a 1930. Neste período foram propostos e realizados melhoramentos localizados em partes das cidades. Projetando sobre a cidade existente, tratava-se ainda de melhorá-la. Esta primeira geração de profissionais que atuava neste período era formada em cursos de engenharia nas antigas Escolas Militares na Bahia, Pernanbuco e no Rio de Janeiro. Alguns eram formados no exterior.
Pressionados pelas epidemias que estavam assolando as cidades, a questão do saneamento era central e os engenheiros eram chamados para elaborar o projeto e chefiar comissões para implantação de redes de água e de esgoto e neste levantamento realizado destacam-se Saturnino de Brito, Theodoro Sampaio, Lourenço Baeta Neves. Saturnino de Brito inicia sua atuação no final do século 19, e projeta sistema de esgotamento sanitário e abastecimento de água para mais de 20 cidades brasileiras.
A reforma e ampliação dos portos marítimos e fluviais. A reforma e ampliação dos portos aconteceram nas principais cidades litorâneas nas duas primeiras décadas do século. O porte destas reformas estende-se, como é o caso do Rio de Janeiro, do Recife, de Salvador, de Niterói no embelezamento e remodelação de praças e na abertura de largas avenidas.
A principal obra proposta era a construção de um ramal ferroviário ligando as regiões produtoras a Vitória, sendo também outra obra importante foi à projeção de três núcleos urbanos: o principal denominado Novo Arrabalde, o bairro operário Vila Monjardim e entre os dois a vila Hortícula todas essas obras foram projetadas por Saturnino Brito.
Os projetos de melhoramentos valorizavam novas áreas, próximas aos centros comerciais tradicionais, e dão início ao processo de descentralização, por volta de 1903 e Niterói reassume a condição de capital do estado do Rio de Janeiro e passa por uma série de transformação, isto proporcionou a elaboração de projetos para Assembléia Legislativa, Palácio da Justiça, Secretaria de Policia e Escola Nacional, prédios ecléticos, de linhas classicizantes, com influência renascentista italiana, estilo inglês e francês, de acordo com a finalidade da edificação.
A valorização de novas áreas levou ao abandono e à transformação de moradias da burguesia em cortiços e em São Paulo os projetos para o vale do Anhangabaú (1906 e 1912) integram as duas encostas do vale, de um lado a colina onde se formou a cidade de São Paulo, e do outro lado o emergente bairro comercial valorizado pela construção do Teatro Municipal.
Em 1909 Francisco Saturnino de Brito é contratado pelo governo estadual do Pernanbuco para assumir o cargo de engenheiro-chefe da Comissão de Saneamento, órgão criado pela construção de uma nova rede de esgotos da cidade, isto também foi proposto para a cidade de Recife um plano para o serviço de abastecimento de água potável esta proposta incluía um plano de expansão da cidade devido a dificuldades financeira ouve atraso na conclusão das obras.
A primeira geração de urbanista atua neste período na transformação dos antigos cursos de engenharia civil e militar no Rio de Janeiro, Recife e Salvador em Escolas Politécnica, surge também em São Paulo a Escola Politécnica em 1894, seguindo um modelo alemão e este modelo adotado aproxima-se mais do modelo germânico, que unificava o ensino fundamental e dos cursos especiais em uma única escola.
O segundo período, de 1930 a 1950. Este período é marcado pela elaboração de planos que têm por objeto o conjunto da área urbana na época tendo uma visão de totalidade, são planos que propõem a articulação entre os bairros, o centro e a extensão das cidades através de sistemas de vias e transportes e neste período são formuladas as primeiras propostas de zoneamento e também a organização de órgãos para o planejamento urbano nas principais cidades.
Vale salientar que os planos de saneamento em particular os de Saturnino de Brito eram elaborados com uma visão de totalidade, tanto da área urbana existente como a sua integração a uma área de expansão, sendo esta visão integrada inerente aos projetos de sistemas em rede de infra-estrutura a partir dos anos 30 e nesta mesma época surge legislação urbanística para controle do uso do solo.
A circulação de idéias urbanísticas no meio profissional se deu através da contratação de técnicos para elaboração de pareceres e de planos, sendo que em alguns casos, estudos expostos em congresso desdobravam-se em planos e esta contratação de técnicos incluía também os especialistas estrangeiros. Em muitos casos contratava especialista de expansão do campo de atuação profissional.
As formas variavam conforme o compromisso do técnico com a formação de profissionais e em muitos casos tratava-se apenas, para o especialista contratado, de expansão do campo de atuação profissional como, por exemplo, Joseph-Antoine Bouvard nos projetos para o vale do Anhangabaú, em São Paulo ou o caso do urbanista francês Donat Alfred Agache no Rio de Janeiro no final dos anos 20.
No período do Estado Novo, observamos as transformações radicais da estrutura das cidades e a partir de 1937 são realizadas obras que transformam radicalmente as estruturas, principalmente no que se refere ao sistema viário. Estas obras têm com base os planos elaborados e em São Paulo, Prestes Maia assume a prefeitura e utiliza o Plano de Avenidas.
Na cidade de Porto Alegre desenvolve-se uma experiência interessante de desenvolvimento de estudos, propostas e realização simultânea de obras e o Prefeito de Porto Alegre, José Loureiro da Silva, contrata em 1938 o urbanista Arnaldo Gladosh, que havia participado da equipe de Agache no Plano do Rio, para elaborar um Plano de Urbanização.
O terceiro período de 1950 a 1964. Neste período são iniciados os planos regionais, dando conta da nova realidade que se configura nesta época a migração do campo para a cidade, o processo crescente de urbanização, o aumento da área urbana e conseqüentemente conurbação. No urbanismo, no planejamento urbano e regional constatamos a imbricação, desde a gênese, entre este conhecimento e a prática profissional.
Com a chegada do padre dominicano Louis Joseph Lebert ao Brasil em 1946, para difundir o Movimento Economia e humanismo e fundar os escritórios regionais da SAGMACS em Recife, São Paulo e Belo Horizonte trazendo uma nova expectativa de inserção e resultados do trabalho profissional e para os arquitetos, engenheiros, sociólogos, economistas da SAGMACS esta inserção traz tensão e ambigüidade, em especial porque se colocam expectativas políticas e sociais através desta atuação.
No Brasil, a década de 50 é um momento de importantes transformações no campo dos estudos urbanos pela emergência de novos temas, a introdução de novos métodos e a participação de profissionais de outras disciplinas que, até aquele momento, não haviam se ocupado da questão urbana. Para concluir chamamos a atenção da importância destes dois textos para apresentação da questão urbana no nosso país e da formação de uma consciência da importância de um trabalho em conjunto com toda a sociedade para busca de soluções de grande relevância para amenizar os problemas causados pela falta de saneamento.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
Texto sobre A Gênese do Urbanismo no Brasil
LEME, Maria Cristina da Silva. A Formação do Pensamento Urbanístico no Brasil, Editora, EDUFBA, 2005
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